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sábado, 11 de maio de 2013

Um texto pra minha menina


Um amigo querido me pediu para que eu fizesse uma mensagem para o Dia das Mães. Eu poderia escrever como filha, já que ainda não faço parte desse universo. Mas foi tentando compreender esse mundo que fiz essa carta sendo ela. Sendo minha mãe


               Meu filho quero lhe dizer tantas coisas que hoje não cabem em meu peito. Já tenho alguns cabelos brancos e preciso dos óculos pra escrever essa carta. Hoje é Dia das Mães, já recebi tantas homenagens suas, mas agora sou eu quem faz essa surpresa pra você. Você já vai embora de casa, levantar voo e buscar os seus sonhos, mas quero deixar minha gratidão de ter aprendido tanta coisa contigo nesse tempo. Antes eu era uma só, mas depois do dia que você nasceu me multipliquei tantas vezes. Um ser tão pequenino e frágil, mas o suficiente pra derrubar o meu egoísmo. Lembro-me de quando abriu os olhinhos e percebi que enfim, eu já não estava mais sozinha. É uma sensação indescritível ter outro coração fora do corpo. Lembro que chorei quando disse pela primeira vez: meu filho. E ficamos conversando naquela maternidade até perder-se no tempo. Todo dia era dia de choro, papinhas, fraldas sujas, noites mal dormidas, mas acredite: ver você rindo compensava tudo. Até que um dia você me chamou de mamãe. A partir daquele momento entendi essa palavra: eu preciso tanto de você. E o tempo foi passando e o vi crescendo, aprendendo e amadurecendo. Brigamos algumas vezes depois e você me achava chata, se lembra? Que eu gostava de pegar no pé e que queria ficar só. Até acho graça porque não consigo ficar com raiva. Vai entender. Hoje, você já está crescido e feito, com muitos planos pra realizar na sua vida e seguir seu rumo. Mas mamãe sempre estará aqui, com aquele perfume que você gosta tanto quando me abraça. Meus braços já não podem mais te carregar, mas carrego toda a sua vida dentro de mim. Se hoje eu sou mãe é porque você me fez assim. Eu te amo meu filho.

PS: Não se esquece de levar toalha e a escova de dente.

Beijos da mamãe.



Para minha Dona Vana.

segunda-feira, 3 de dezembro de 2012

Deficiente sim, coitado não


Um pequeno texto para duas pessoas que conheci um tempinho atrás: a mãe que descobriu esse ano que a filha de 5 anos tem surdez. Esse texto é pra vocês.
 
                      
          Tinha me esquecido que é hoje é o Dia Internacional das Pessoas com Deficiência. A gente não compreende a deficiência até ter um filho, um pai, uma mãe ou um irmão deficiente. Ninguém entende essa condição até conviver com ela.  Resolvi compartilhar um pouco desses 21 anos que eu me descobri deficiente auditiva. E já digo de início que não foi fácil. A deficiência começou aos 4 anos de um lado e depois fui perdendo gradualmente a audição até ser bilateral, com o diagnóstico de severo a profundo. Pra entender como funciona o ouvido nesse caso, é só tapar os dois lados e pronto. E aí se alguém gritar perto do seu ouvido, talvez você possa ouvir algo. É mais ou menos assim que funciona no meu caso. Foi sorte não ter tido um trauma na infância em relação à perda, já que vivia um pouco isolada do mundo e das crianças. Mas durante a adolescência, período de afirmação de identidade, foi a pior experiência: a gente nunca se aceita como é e ainda mais sendo deficiente. Estudava em uma escola tradicional, com grupos diferenciados e eu me encaixaria em que grupinho? Coloquei na cabeça que queria ir para uma escola especializada, que meu lugar não era ali. Felizmente, alguém acreditou em mim - "Você é capaz como qualquer um". Mas foi um período difícil. Sempre idealizando amores como qualquer garota de 15 anos, com as mesmas dificuldades de todo mundo e tentando de qualquer jeito ser "aceita" na turma. Essa foi a pior fase. Mas já passou. Apenas ficaram lições. Hoje sou formada, professora concursada e estudante de música. Raramente precisei de cotas na minha vida, apesar de considerá-la importantíssima no processo de inclusão social. Minha intenção nesse texto é tentar mudar a imagem do deficiente como pobre coitado, como era tratado nos tempos de Hitler (esse com a "normalidade" de mandar matar todos com deficiência mental e física). Nós não somos coitadinhos, somos parte dessa sociedade. Nós aprendemos com ela e ela aprende conosco. Se não for assim, ninguém vai saber como é bom desligar o aparelho auditivo dentro de um ônibus lotado, sentir as vibrações do som e nem o quanto é tão 007 ler os lábios dos outros com óculos escuros. Tudo tem seu lado positivo, o grande lance é encontrá-lo. Só isso.



quinta-feira, 16 de agosto de 2012

O primeiro luto



Na vida tudo tem uma primeira vez. Primeiro choro, primeira papinha, primeiro aniversário, primeiro banho. Mas não sabia que existia o primeiro luto. Fui saber hoje.

                
                     Dias antes eu estava checando umas passagens e só marcava no calendário dia 16, dia 16, dia 16... E mal sabia o que me esperava. De malas prontas, presentes comprados, passagens adquiridas três meses antes, aulas antecipadas na escola, ansiosa pra ver meu amigo desde os tempos da 6ª série se formar na UFRJ. Ele conseguiu o que sonhávamos tanto. Meu coração estava feliz, mas também apreensivo. Apreensivo porque uma parte de mim estava aqui em São Luís. Uma parte estava lá no hospital com a minha avó. Apesar de tudo, eu viajaria confiante na sua recuperação. Mas exatamente três horas antes de viajar, recebo a notícia que ela tinha acabado de falecer. Desabei. Ela se foi. Essa fase da negação é a pior que existe.    "- Não, ela não morreu!”  A dor de perder alguém que a gente ama é como carregar infinitas toneladas nas costas. Você tenta se reerguer, mas o peso continua ali. Foi a primeira vez que senti o luto. E por ser o primeiro luto, eu não sabia lidar com ele. Era minha avó que estava ali na minha frente, esperando pra ser levada de volta pra cidade dela, minha terra natal. Antes ela era tão quentinha, com os cabelos brancos e se acabava de rir das minhas molecagens. O som do sorriso era gostoso de ouvir. Hoje, eu a vi deitada, dura, fria, inchada e sem emoção nenhuma. Imaginei minha mãe, imaginei meu pai, imaginei que um dia vai ser eu quem vai estar no lugar deles.  E eu nunca vou entender esse processo e porque isso tem que acontecer, por nenhum motivo sequer. Só tenho perguntas. E elas nunca serão respondidas. Sempre falam que é a vida, faz parte, é a ordem natural etc. Mas não me peçam pra engolir. O gosto é amargo demais. Eu olho pra cima e pergunto pra Ele: por que e para quê? Hoje caiu a ficha de que nada é pra sempre e eu talvez vou viver mais situações como essa com outras pessoas que eu amo. E que nunca vou estar preparada. Nunca. Hoje eu perdi o avião, perdi a minha avó, perdi o dia. A correria das horas de toda quinta-feira se transformou em um filme rodado em câmera lenta. Cada segundo passava devagar, como se o dia não quisesse acabar. E não acabava. Só tenho uma esperança de que um dia vamos nos encontrar. E vamos rir muito. Mas muito mesmo.

Para minha vó Jodina. 
O peixe assado que eu prometi que íamos comer depois da sua recuperação ainda está aqui. 
Mas vá em paz vó. Te amo pra sempre.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Um pequeno texto aos meus amigos

                    



               E disse me disse que hoje é dia do amigo. É.. hoje é dia do amigo. Aquele que tem o melhor abraço, a melhor risada e o maior ombro do mundo. Alguns amigos já devem estar com algum deslocamento ou luxação de tanto emprestarem seus ombros pra eu rir e chorar. Faz parte. Mãe, irmão, prima, namorado, avó, tia, cachorro e os propriamente ditos amigos. Todos são. Conheci pessoas que me fizeram crescer e que de alguma forma não as vejo mais. Queria poder encontrá-las novamente. Outras que ainda tenho em meu convívio, mas tento segurá-las como se fosse um balão de gás hélio. Talvez um dia elas vão embora e a distância seja longa demais para um fio de telefone. Mas se seu amigo voltar, é porque deixou uma parte dele com você. Tenho amigos de oração, de anos 80, de bagunça, de banda, de faculdade, de arte, de risos, de música, de trabalho, de broncas, de escola... Todos de alguma maneira  ajudaram ou me ajudam a subir um degrau daquilo que eu chamo de vida. É como se cada um fosse uma peça importante para o meu trem seguir em frente. E ele vai seguindo. Novos amigos virão, novas paradas, mas aqueles que eu já tenho serão os selos da minha bagagem. Os amigos verdadeiros... ah esses amigos verdadeiros... eles são pra mim como o Woody de Toy Story: "O Woody tem sido meu amigo desde sempre, é corajoso como um cowboy deve ser, é gentil, inteligente, mas o que faz o Woody especial, é que ele nunca desiste de você. Nunca. Ele vai estar contigo pro que der e vier." É... tenho sorte.        

terça-feira, 17 de maio de 2011

O retorno das andorinhas

                
                Retorno. s.m Ato ou efeito de retornar; regresso, volta, reaparição. É o que um dicionário online diz. Eu definiria retorno como um ato de saudade. Saudades de criticar o que me inquieta, de compartilhar uma alegria, uma dor e principalmente de fazer jus ao título do blog: o som da chuva. Fiquei esses últimos meses fora de órbita, em algum lugar do espaço, freneticamente gritando com os outros em busca do nosso ouro perdido em uma terra sem lei. Talvez tenhamos perdido mesmo. Não por não lutarmos. Mas traídos pelo beijo de Judas. Sim traídos em nome do dinheiro, fome de poder e falta de caráter. Eu vi de perto essas pessoas. Agora não chove na cidade, ainda bem. Mas eu precisei vir aqui, ouvir o som da chuva e parar um pouco. Respirar um pouco. Descansar um pouco. Olhando a conta do que aconteceu nesses quase 80 dias, ouvi o que eu não queria ouvir e vi o que não queria ver. As pessoas são miseráveis porque querem. E ainda nos mantém reféns da miséria. Não entrei no combate por ingenuidade, sabia que ia levar um tiro. Mas pior do que isso é levar uma punhalada nas costas por quem você pensa que está contigo. Mas a vida é um eco. O mundo dá voltas. Sempre deu. É por isso que prefiro confiar nos meus cachorros, são mais "humanos" do que muita gente que eu vejo por aí. A vida segue, uma andorinha retorna. Mas um dia ela vai partir em busca do melhor. Como sempre fez. 



Nada a temer senão o correr da luta
Nada a fazer senão esquecer o medo
Abrir o peito a força, numa procura
Fugir às armadilhas da mata escura
Longe se vai
Sonhando demais
Mas onde se chega assim
Vou descobrir
O que me faz sentir
Eu, caçador de mim

(Caçador de mim - Milton Nascimento)

domingo, 16 de janeiro de 2011

O quebra-cabeça


                Às vezes me pergunto se a morte é um alívio. Às vezes imagino o que há depois dela. E como sempre, eu não tenho respostas prontas. Se as tivesse, viver seria apenas um cumprimento de horários e calendários. Creio eu que a vida seja um quebra-cabeça. Nascemos com as peças desorganizadas: não andamos, não falamos, não temos dentes e nem nos lembramos de nada. Somos apenas um bebê. Cada um que pisa nesse chão de terra é um imenso quebra-cabeça com peças espalhadas por aí. Talvez essa seja a graça de viver. Me lembro que, quando criança, eu ganhei um jogo de montar um desenho dos anos 90. Não me recordo de quantas peças ele tinha, mas deduzo que haviam 100. Cuidadosamente eu começo a organizar meu quebra-cabeça e sigo feliz. Mas descubro que é realmente difícil. Muito difícil. Tal como a vida. Pelo meu raciocínio natural de criança, coloco as peças nos lugares errados e insisto, insisto e insisto. Calma, deve ser em outro lugar. E passo a tarde toda concentrada no tal jogo. E foi quando cortei uma peça pra encaixar. Pobre menina. Mudaste o que já estava totalmente feito pra você. Apenas faltou paciência. E no final das contas, nunca mais consegui montar meu quebra-cabeça e aquele jogo frustrado ficou no labirinto da minha infância. Perguntando em direção ao céu porque a gente morre, veio a lembrança dessa experiência talvez insignificante, mas que hoje tornou-se uma resposta plausível pra mim. Viver é esse quebra-cabeça que a gente monta por aí: família, amigos, escola, trabalho, viagem e o mundo. E sabe quando você termina de juntar as peças, a sensação é de alívio? Será que seria a mesma coisa com a morte? Talvez sim. Morrer é quando a última peça é colocada e a sua vida se transforma em um enorme quadro retalhado de imagens, experiências e momentos. Agora entendo porque algumas coisas não dão certo e outras nem esperamos que dê. Alguns pedidos não são realizados, outros que nunca foram feitos e vieram na hora certa. Talvez  isso direcione a idéia de destino. Mas aí eu já contaria uma outra história. Enquanto isso meu quebra-cabeça vai sendo montado. Quer me ajudar?

quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

CD Alicia Keys MTV Unplugged




             Jazz. Soul. Black Music. Blues. Hip Hop. Sintetizadores. Compositora. Voz maravilhosa. Ela e o piano. Alicia Keys. Outra inspiração. O CD e o DVD é um  projeto acústico produzido em 2005 pela MTV e demonstra a maturidade da música de uma cantora norte-americana que tocava piano desde os sete anos de idade - detalhe: clássicos mundiais como Bethoven, Chopin e Mozart. Em um clima mais intimista, ela dá um novo som para  as músicas mais cantadas pelo público. Alguém pode falar assim: - "É música americana enlatada". Já eu retruco: - "O pai dela é jamaicano e a mãe dela tem ascendência ítalo-irlandesa-escocesa. Sem contar na influência musical." Tocar piano é para fracos. Ler e contar uma história através dele é para poucos. E ela lê e canta melodias de amor, vida e ilusão com um simples acorde. Isso pra mim é fascinante. Mesmo que seja coisa de americano (para os ufanistas de plantão). Não é à toa que uma das músicas mais tocada de 2010 foi dela, aqui na versão puramente solo: Empire State Of Mind. Me permite uma história? Pois bem. Andando por aí nessas lojas de shopping, dei uma olhada na sessão de promoções e vi esse CD por R$ 9,99. Quase não acreditei. Na internet está R$ 27,90. E como todo carnaval tem seu fim, eu não tinha dinheiro e fui embora no intuito de retornar. Voltei e não vi mais o meu presente. É... alegria de pobre dura pouco. Muito pouco mesmo. E então meu pedido de Natal, Fim de ano, Ano Novo e Carnaval é: se você achar o CD na lojinha que tem o  mesmo nome da nacionalidade dela, corre pra cá e me avisa. Aliás... Pensando bem... Tá... Fica pra você. Só não esquece de me emprestar depois. Combinado? 

MTV UNPLUGGED ALICIA KEYS (2005)

Álbum que mais vendeu no mundo desde o MTV Unplugged Nirvana. 16 faixas.


segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Sabe de uma coisa


                Felicidade pra mim é estado de espírito. É lembrança. Instantes de sorrisos. Não a encontro nas grandes coisas, nos grandes feitos ou no maior motivo sequer. Não pode ser reduzida a um mero cartão de crédito ou um carro. Felicidade é para poucos. Poucos sabem que o que compõe a felicidade não são coisas, mas pessoas. A gente pode até ter um certo prazer em possuir um objeto tão desejado. Mas depois de dois anos, ele estará esquecido na mesa ou na gaveta, ou até mesmo vendido e jogado fora. Felicidade não se tem por um segundo, na euforia desmedida e egoísta. Pra ela fazer sentido, tem que ser compartilhada em dois, três, quatro, cinco, seis... Alguém deve pensar "-oh, quem não sabe?" E eu arrisco responder "- não é o que a gente vê". Só contar nos dedos quantas pessoas ousam compartilhar a felicidade delas com alguém. Talvez porque a inveja tem sono leve. É uma pena. Há um pensamento de que quando alguém está em busca da felicidade, é porque está triste. Nem sempre. Por isso afirmo que ser feliz é para raros. Eu não me enquadro aqui. Ainda estou em busca. Talvez meus momentos de ser acordada pelos meus cachorros de manhã cedo, aquele abraço afagado de um amor, uma conversa com minha senhora na mesa de jantar, uma boa gargalhada com amigos ou tocar algumas notas no piano se resumem na minha essência de ser feliz. Cada um, ao ler esse texto, suponho que se recordou dos seus instantes felizes. A felicidade não é obrigatória. E quem a considera como tal comete um grande erro: muita expectativa pode gerar frustração. Ela, na verdade, chega quando menos espera e vai embora sem falar, exalando pequenos vestígios. O feliz é aquele que deixa a felicidade partir e não espera a sua volta. Ele sabe que um dia ela retorna. A minha já se foi, mas deixou esse texto de presente pra mim. O jeito então é cantar com Tim Maia. Essa tal felicidade, hei de encontrar. Mesmo se eu tiver que aguardar, se eu tiver que esperar...

sábado, 4 de dezembro de 2010

Filme - Infância Roubada




         Trailer do filme                

                     Olhando esses últimos acontecimentos da guerra contra o tráfico de drogas no Rio, lembrei de um filme que assisti por recomendação de um amigo. O título original é Tsotsi, que é uma gíria local para criminoso, e foi gravado em uma pequena cidade sul-africana, Joanesburgo. Sim, aquela mesma da Copa do Mundo de 2010. A obra cinematográfica ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2006 e conta a história do líder de uma gangue que ao assaltar o carro de uma mulher, em um bairro luxuoso, se depara com o bebê dela no banco de carona. Sem saber o que fazer foge com o carro e a criança. Esse contato com um ser indefeso faz com que ele reflita a sua participação no mundo do crime e resgate sua dolorosa infância sem educação, de maltratos e morte. O filme chega a ser cômico na parte que ele tenta ser um pai, só que desnorteado, dando leite condensado para a criança. É a humanização do que é considerado bandido, demônio e marginal. Lembrei da guerra que acontece no Rio porque não há como separar esse contraste de luxo e pobreza, tráfico e consumidor, a orla e o morro, o Cristo e o inferno. E o rapaz que um dia foi uma criança que conheceu o sofrimento tão cedo em Joanesburgo é o mesmo rapaz que viu o familiar sendo morto pela hipocrisia da sociedade na periferia daqui. Não estou defendendo ninguém, deixo claro. Mas o tempo está passando e a criança de hoje será o herói ou o bandido de amanhã. E faz medo. Muito medo. O que vimos no Rio e o que filme retrata é apenas a ponta de um imenso iceberg. Ou vai dizer que não temos culpa?   


9.3      

Infância Roubada
2005. 94 min. Drama. 14 anos. Presley Chweneyagae, Terry Pheto, Kenneth Nkosi
        

quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Beatas, carolas e santas

    

               Engraçado como as pessoas nos chamam de expressões citadas no título sem ao menos nos conhecer. E nos dirigem com essas palavras na forma mais preconceituosa possível. Lembro de algumas situações na época do colégio em que eu fui apontada como a tal. Apenas era calada, quieta, tímida e adolescente. Quando se tem uma deficiência, o ser humano tenta ser igual a todo mundo, copiando o que todos fazem ou deixam de fazer.  Esse foi o meu caso. Isso eu chamo de aceitação. E foi um erro.  Um grande erro. Aceitava tudo calada pra compensar o que eu não tinha e o que todos possuíam: a audição. E daí ouvia das pessoas a expressão sonsa. Beata, carola e santa. Na verdade, esses termos são utilizados pra quem já partiu para o outro lado e está são, daí a origem da palavra santo. E só depois pode ser beato ou não. Mas discutir isso agora depende da fé de cada pessoa. E eu tenho a minha fé. O problema é que eu ainda ouço ser chamada de alienada, fraca, santa, "tapada", sem objetivo e carola pelo simples fato de pisar na Igreja. É, tem gente com alguma deficiência mesmo. E não sou eu. Mas sabe de uma coisa? É na tão mal falada Igreja que eu encontro o silêncio. Esse difícil silêncio que não se faz hoje. Onde posso encontrá-lo nesse turbilhão de mundo, gritos, vozes e choros? Você pode sugerir que eu feche a porta do quarto e fique ouvindo o nada. Mas a diferença é uma. A busca. É preencher o espaço que falta. É tentar encontrar as respostas das perguntas que me inquietam constantemente. E isso só o silêncio traz. Por ironia do destino eu o tenho de graça. Engraçado, não?          

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