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domingo, 16 de janeiro de 2011

O quebra-cabeça


                Às vezes me pergunto se a morte é um alívio. Às vezes imagino o que há depois dela. E como sempre, eu não tenho respostas prontas. Se as tivesse, viver seria apenas um cumprimento de horários e calendários. Creio eu que a vida seja um quebra-cabeça. Nascemos com as peças desorganizadas: não andamos, não falamos, não temos dentes e nem nos lembramos de nada. Somos apenas um bebê. Cada um que pisa nesse chão de terra é um imenso quebra-cabeça com peças espalhadas por aí. Talvez essa seja a graça de viver. Me lembro que, quando criança, eu ganhei um jogo de montar um desenho dos anos 90. Não me recordo de quantas peças ele tinha, mas deduzo que haviam 100. Cuidadosamente eu começo a organizar meu quebra-cabeça e sigo feliz. Mas descubro que é realmente difícil. Muito difícil. Tal como a vida. Pelo meu raciocínio natural de criança, coloco as peças nos lugares errados e insisto, insisto e insisto. Calma, deve ser em outro lugar. E passo a tarde toda concentrada no tal jogo. E foi quando cortei uma peça pra encaixar. Pobre menina. Mudaste o que já estava totalmente feito pra você. Apenas faltou paciência. E no final das contas, nunca mais consegui montar meu quebra-cabeça e aquele jogo frustrado ficou no labirinto da minha infância. Perguntando em direção ao céu porque a gente morre, veio a lembrança dessa experiência talvez insignificante, mas que hoje tornou-se uma resposta plausível pra mim. Viver é esse quebra-cabeça que a gente monta por aí: família, amigos, escola, trabalho, viagem e o mundo. E sabe quando você termina de juntar as peças, a sensação é de alívio? Será que seria a mesma coisa com a morte? Talvez sim. Morrer é quando a última peça é colocada e a sua vida se transforma em um enorme quadro retalhado de imagens, experiências e momentos. Agora entendo porque algumas coisas não dão certo e outras nem esperamos que dê. Alguns pedidos não são realizados, outros que nunca foram feitos e vieram na hora certa. Talvez  isso direcione a idéia de destino. Mas aí eu já contaria uma outra história. Enquanto isso meu quebra-cabeça vai sendo montado. Quer me ajudar?

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