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quinta-feira, 25 de novembro de 2010

Beatas, carolas e santas

    

               Engraçado como as pessoas nos chamam de expressões citadas no título sem ao menos nos conhecer. E nos dirigem com essas palavras na forma mais preconceituosa possível. Lembro de algumas situações na época do colégio em que eu fui apontada como a tal. Apenas era calada, quieta, tímida e adolescente. Quando se tem uma deficiência, o ser humano tenta ser igual a todo mundo, copiando o que todos fazem ou deixam de fazer.  Esse foi o meu caso. Isso eu chamo de aceitação. E foi um erro.  Um grande erro. Aceitava tudo calada pra compensar o que eu não tinha e o que todos possuíam: a audição. E daí ouvia das pessoas a expressão sonsa. Beata, carola e santa. Na verdade, esses termos são utilizados pra quem já partiu para o outro lado e está são, daí a origem da palavra santo. E só depois pode ser beato ou não. Mas discutir isso agora depende da fé de cada pessoa. E eu tenho a minha fé. O problema é que eu ainda ouço ser chamada de alienada, fraca, santa, "tapada", sem objetivo e carola pelo simples fato de pisar na Igreja. É, tem gente com alguma deficiência mesmo. E não sou eu. Mas sabe de uma coisa? É na tão mal falada Igreja que eu encontro o silêncio. Esse difícil silêncio que não se faz hoje. Onde posso encontrá-lo nesse turbilhão de mundo, gritos, vozes e choros? Você pode sugerir que eu feche a porta do quarto e fique ouvindo o nada. Mas a diferença é uma. A busca. É preencher o espaço que falta. É tentar encontrar as respostas das perguntas que me inquietam constantemente. E isso só o silêncio traz. Por ironia do destino eu o tenho de graça. Engraçado, não?          

domingo, 21 de novembro de 2010

Curta - Vida Maria




              
                  "Ô Maria José, invés de ficá perdendo tempo desenhando, vai lá pra fora procurar o que fazê, vai. Vai menina! Vê se tu me ajuda Maria José." Fico encantada como há tanta criatividade e sensibilidade nesse curta premiado aqui e no exterior, do diretor Márcio Ramos. A primeira vez que eu assisti foi no Festival Guarnicê de Cinema em 2007, ao ar livre, nas pedras de cantaria do Reviver. Momento único. O curta de 9 minutos conta a história de três Marias repetindo o mesmo ciclo de vida, vivendo na mesma casa e no sertãozinho do Ceará. Aqui o ponto mais brilhante do filme: todas elas, quando crianças, rabiscam um pequeno caderno, dando asas aos seus sonhos e imaginações. Mas a realidade sofrida do dia a dia acaba por iniciar um ciclo que nunca termina. Me fez pensar se eu sou diferente. E sou? Não. Não sou. Ninguém é. Somos todos Marias nos seus sertões e ciclos intermináveis. Infelizmente essa é a realidade. Simplesmente porque é a vida. Nascer, crescer, viver e morrer. Ponto final.


Vida Maria
Animação. 9 min. 2006. Márcio Ramos. Brasil

quinta-feira, 11 de novembro de 2010

Receita para a vida

           
                 
                      Calma. O que escreverei aqui não necessariamente é uma fórmula auto ajuda para alcançar o sucesso e tampouco uma verdade a ser considerada. É certo que é um título clichê. É certo que é uma lição pra mim. Dias desses fui fiscal de um concurso nacional muito organizado e minha função era a de recolher assinaturas, burocracias e medos. Sem dúvida alguma, talvez é o único lugar onde você pode olhar e observar melhor uma pessoa, sem que esta se sinta incomodada. Sentada naquela cadeira, vivi num laboratório de reações humanas durante 10 horas e mesmo sem fazer nada fiquei exausta. Sim. Não fazer nada adoece. Por isso me peguei olhando de canto para uns textos daqueles que já foram e que estavam organizados em cima da minha mesa. Não sou nenhuma expert em português ou gramática, mas não gostei do que li. Sério. Agora entendi porque anos atrás as pessoas não gostavam do que eu escrevia. Colecionei zeros e prometi nunca mais escrever. Engano meu. Resolvi então não escrever para os outros, mas para mim mesma, pra lembrar que ainda vivo. Os outros tem milhões de gostos e particularidades, mas só você entende você. A gente escreve pra sair da mesmice do dia a dia, tentar trazer uma visão nova de uma vista cansada e melhorar o que não nos contenta. É uma forma de respirar. Descobri que a gente nasce pra gerar o novo no mundo, sem mudar o que já estava ali primeiro. É como fazer um bolo. Ponho os mesmos ingredientes que minha bisavó colocava nos tempos dela. Mas acrescento algo novo. Uma pimenta, uma canela, umas castanhas ou uns confetes. Talvez dê certo. Quer um pedaço?



Para meu amigo Marcos Atahualpa 
por ter me lembrado de fazer um bolo.

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