Olhando esses últimos acontecimentos da guerra contra o tráfico de drogas no Rio, lembrei de um filme que assisti por recomendação de um amigo. O título original é Tsotsi, que é uma gíria local para criminoso, e foi gravado em uma pequena cidade sul-africana, Joanesburgo. Sim, aquela mesma da Copa do Mundo de 2010. A obra cinematográfica ganhou o Oscar de Melhor Filme Estrangeiro em 2006 e conta a história do líder de uma gangue que ao assaltar o carro de uma mulher, em um bairro luxuoso, se depara com o bebê dela no banco de carona. Sem saber o que fazer foge com o carro e a criança. Esse contato com um ser indefeso faz com que ele reflita a sua participação no mundo do crime e resgate sua dolorosa infância sem educação, de maltratos e morte. O filme chega a ser cômico na parte que ele tenta ser um pai, só que desnorteado, dando leite condensado para a criança. É a humanização do que é considerado bandido, demônio e marginal. Lembrei da guerra que acontece no Rio porque não há como separar esse contraste de luxo e pobreza, tráfico e consumidor, a orla e o morro, o Cristo e o inferno. E o rapaz que um dia foi uma criança que conheceu o sofrimento tão cedo em Joanesburgo é o mesmo rapaz que viu o familiar sendo morto pela hipocrisia da sociedade na periferia daqui. Não estou defendendo ninguém, deixo claro. Mas o tempo está passando e a criança de hoje será o herói ou o bandido de amanhã. E faz medo. Muito medo. O que vimos no Rio e o que filme retrata é apenas a ponta de um imenso iceberg. Ou vai dizer que não temos culpa?
9.3
Infância Roubada
2005. 94 min. Drama. 14 anos. Presley Chweneyagae, Terry Pheto, Kenneth Nkosi
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