Na vida tudo tem uma primeira vez. Primeiro choro, primeira
papinha, primeiro aniversário, primeiro banho. Mas não sabia que existia o primeiro luto. Fui saber hoje.
Dias antes eu estava checando umas passagens e só marcava no calendário dia 16, dia 16, dia 16... E mal sabia o que me esperava. De malas prontas, presentes comprados, passagens adquiridas três meses antes, aulas antecipadas na escola, ansiosa pra ver meu amigo desde os tempos da 6ª série se formar na UFRJ. Ele conseguiu o que sonhávamos tanto. Meu coração estava feliz, mas também apreensivo. Apreensivo porque uma parte de mim estava aqui em São Luís. Uma parte estava lá no hospital com a minha avó. Apesar de tudo, eu viajaria confiante na sua recuperação. Mas exatamente três horas antes de viajar, recebo a notícia que ela tinha acabado de falecer. Desabei. Ela se foi. Essa fase da negação é a pior que existe. "- Não, ela não morreu!” A dor de perder alguém que a gente ama é como carregar infinitas toneladas nas costas. Você tenta se reerguer, mas o peso continua ali. Foi a primeira vez que senti o luto. E por ser o primeiro luto, eu não sabia lidar com ele. Era minha avó que estava ali na minha frente, esperando pra ser levada de volta pra cidade dela, minha terra natal. Antes ela era tão quentinha, com os cabelos brancos e se acabava de rir das minhas molecagens. O som do sorriso era gostoso de ouvir. Hoje, eu a vi deitada, dura, fria, inchada e sem emoção nenhuma. Imaginei minha mãe, imaginei meu pai, imaginei que um dia vai ser eu quem vai estar no lugar deles. E eu nunca vou entender esse processo e porque isso tem que acontecer, por nenhum motivo sequer. Só tenho perguntas. E elas nunca serão respondidas. Sempre falam que é a vida, faz parte, é a ordem natural etc. Mas não me peçam pra engolir. O gosto é amargo demais. Eu olho pra cima e pergunto pra Ele: por que e para quê? Hoje caiu a ficha de que nada é pra sempre e eu talvez vou viver mais situações como essa com outras pessoas que eu amo. E que nunca vou estar preparada. Nunca. Hoje eu perdi o avião, perdi a minha avó, perdi o dia. A correria das horas de toda quinta-feira se transformou em um filme rodado em câmera lenta. Cada segundo passava devagar, como se o dia não quisesse acabar. E não acabava. Só tenho uma esperança de que um dia vamos nos encontrar. E vamos rir muito. Mas muito mesmo.
Para minha vó Jodina.
O peixe assado que eu prometi que
íamos comer depois da sua recuperação ainda está aqui.
Mas vá em paz vó. Te amo
pra sempre.